SALA DE LEITURA DA EAT

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Vê-se CS Lewis no Quadro Central, ladeado por seus livros, o Busto de MacDonald à direita e a "Vela do Saber" acesa.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A SEGUNDA VINDA COMO ADVENTO

Para a Igreja Católica Romana, estamos agora no período do Advento, e este é, para Roma, quase exclusivamente associado ao Natal, ou à primeira vinda de Jesus. Todavia o Advento também se refere à Segunda Vinda, chamada “parousia” ou simplesmente parusia, em termos teológicos (o saudoso poeta Costa Matos escreveu o mais belo poema acerca do Advento, o qual oferecemos após este texto).

O que nos espantou nestas últimas semanas, depois de um curso de catequese onde pudemos examinar o zelo eclesial romano, foi uma descoberta impressionante e digna de nota, digo, de nota baixa. Ela pode ser exposta pela seguinte sentença: “A Igreja Católica Romana congelou ou eliminou o seu discurso escatológico porque descobriu uma denúncia bíblica contra ela mesma”. Será verdade? Vejamos.

Para um clero proselitista e auto-eleito único sacerdócio divino na Terra, a Igreja também é elemento salvífico, porquanto tem o seu Sacramental como único canônico, como se Deus “esperasse” pelos padres de Roma para ter uma chance de se fazer “carne verdadeira comida e sangue verdadeira bebida” na mesa eucarística. Porém como a fé é sempre benigna (Rm 14,22-23), não entraremos no mérito da igreja como elemento salvífico, porquanto cremos que tal juízo cabe a Deus.

Entretanto esta noção de elemento salvífico levou a Igreja a acreditar que a 2a Vinda não é bem assim uma “parusia”, ou uma “mega-apoteose dantesca”, na qual a Humanidade (pelo menos numa geração próxima), em profunda agonia pelo caos total das vésperas do fim, iria poder ver com os próprios olhos a chegada da Comitiva de Jesus nos ares, iluminando toda a Terra e as nuvens com sua Glória e brilho inefáveis. Esta noção veio em razão da idéia de que, se a Igreja está salvando almas, se o próprio Cristo se dá por inteiro em cada Hóstia, e se o encontro com Cristo ocorre na verdade é num átimo após a morte, então concluíram o absurdo teológico de que “a parusia, como apoteose, a rigor, é desnecessária, e se Jesus demorar outros milhões de anos, as almas não sentirão nenhuma falta daquele momento apoteótico”. Isto até pode ser verdade em relação a se sentir falta da apoteose, sem dúvida, embora Lucas chame a parusia de nossa “redenção” (Lc 21.28). Mas não é este o ponto a refletir.

O que estamos dizendo é que o afastamento deliberado da proximidade da parusia para o futuro longínquo embute a estratégia proselitista de manter o Templo até às últimas conseqüências, evitando ter que responder à responsabilidade de mudar a metodologia em face do caos do fim, no qual a fé já não existe (Lc 18,8) e muito menos o amor (Mt 24,12), sem os quais não há como manter viva uma igreja nos moldes atuais da hierarquia romana.

E qual é o texto bíblico onde está a denúncia que a Igreja de Roma temeu e “congelou”? Encontra-se nos dois primeiros versículos do cap. 24 de Mateus, e pasmem, bem no início do chamado “Sermão Profético de Jesus”. Ali os apóstolos, ao entrar no Templo, ficaram fascinados pela suntuosidade daquelas construções magníficas e começaram a elogiar tais belezas para Jesus. O Mestre, sem pestanejar, e quase bruscamente, respondeu: “Vocês estão vendo estas belas construções? Pois eu vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada!”. O leitor sentiu a força da resposta de Jesus e até um certo ar de revolta embutida na irrupção do Mestre? E por que Jesus reagiu assim?...

Eis aí a razão exposta. Jesus antevia os últimos dias do mundo, naquela geração perversa e corrupta onde a fé e o amor já terão passado, e onde o Templo (as igrejas feitas por mãos humanas) não teria mais razão de existir, conquanto instrumento de um culto mixado ao pecado e evangelização infrutífera, que a figueira queimada por Jesus tão bem exemplifica. Eis aí porque a Igreja Romana não prega mais a parusia, pois viu que a profecia anti-templo se aplica direitinho a ela mesma, numa prova de que não é tão necessária como se julga ser. [É claro que há exceções, e alguns padres de fato pregaram a parusia, “pagando caro”, e o link (Aqui) mostra um raro exemplo de sacerdote que ousou reaproveitar uma luminosa inspiração do Rei Roberto Carlos].

Por tudo isso, se alguém quiser ouvir falar aquela velha e tão doce voz que diz “Cristo está voltando, prepara-te”, vai ter que ir a uma igreja protestante mais “atenta”, e talvez do tipo mais fanática, infelizmente. Ali, pelo menos neste mister, ainda se pode ouvir “o clarim que chama os crentes à batalha”.


..................................Prof. João Valente de Miranda.

SERMÃO DO PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO
(José Costa Matos)

Já existem sinais,
no céu e na Terra.
Só se salvarão os que escutarem,
na mudez da semente,
as canções da árvore
que ainda vai nascer...

Então, fica comigo.
É preciso que amanheçam todos os caminhos
que anoiteceram na tristeza dos homens irmãos.
E, juntos, nós dois já sabemos rezar
as cantigas que ainda estão madrugando
nos olhos de Deus.

Fica comigo.
O mar já entrou nas nossas vidas
e uniu os nossos dois países
no abraço das navegações
de enriquecimentos recíprocos.
E ninguém consegue
apagar o mar nas cartas geográficas!
O céu desceu sobre as nossas cabeças
e está cantando, muito mais forte,
a Dança de obediência das constelações.
E ninguém jamais matou uma estrela!

Fica comigo.
Quando quisermos,
o Cruzeiro do Sul caberá nas mãos das crianças,
para que todos os nascidos das tuas entranhas
sejam benditos e tenham luz e tenham perdão
nas palavras que disserem,
no jornadeio pregador dos apóstolos.
E ninguém deve calar a Palavra que é PEDRA
na construção do Sermão da Montanha!

Fica comigo.
Quando chegarem os ventos
que vêm do fundo dos séculos,
eles gritarão as perguntas
do que fomos e do que fizemos.

Nesse dia,
AI! DE QUEM NÃO DECIFROU
A INTENÇÃO SECRETA DOS
ENCONTROS HUMANOS!
POIS NINGUÉM JAMAIS
ENCONTROU ALGUÉM
POR ORDEM DO ACASO.

Eu já não te peço mais por mim.
É que pressinto o machado
pendente sobre a raiz da árvore.
Talvez eu já nem saiba mais ficar contigo.

Mas, fica.
Se não houver beleza para o deslumbramento
dos teus olhos;
se o sol não parar
sobre o Domingo de Ramos da tua alegria;
se, depois de todas as colheitas,
ainda ficares de mãos vazias...
Então, vai,
na brancura da tua paz.

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